quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Poema



Eu vim falar das coisas que vi
no palácio, e nas guerras, e nas danças;
eu vim falar das lutas, e da razão
do poema que eu faço, e da donzela:
minha meiga donzela do paço sem flores
segui meus rastros, senti os meus laivos,
tão longe laivos, delírios da terra do Lácio.

Eu te faço o que pediu, com letras
eu te dou o sol, e a lua, o drama
onde também cabe a fome, e a morte,
e o que é que espera, e buscando-a
dou-te amor até a velhice, junto
como se morasse, como se dormisse e bem gostasse
e todo gesto teu fosse comigo o que é
contigo o meu gesto no papel,
este poema, torto, sem medo, rápido
para não te lembrar como quero
mas para que sejas, para o que é
você, descolorida, dura, sem ser
bicho ou gente; e ser apenas palavra,
verso e estrofe; forma e conteúdo.

Meu poema antes amante, é antes meu
poema d’antes, qual sabe de qualquer
amor, sujeito, verbo, fúria ou lentidão
que eu te faço de cor como já te soubesse
meu coração sem nada, e depois o dou
para que possa amá-lo, e amando-o
possa você me conhecer pelo que te dou,
e me amando, eu possa reconhecer você
amante mais em carne que papel e pena.
Assim, presente nas coisas do mundo
presente no que me pede, no tempo
deste instante, meu poema de amor.

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