domingo, 26 de agosto de 2007

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Cirandinha

Se eu me for embora, se eu for agora
ficará contigo o meu coração
na palma da mão, do bater cantiga
a velha canção, roda de criança
passando anel, passa um e passa dois –

passa a vida como gira esse mundo
assim velho como quem adulto fica
e não esquece o anel que ficou com quem
um dia eu deixei, embora até agora
desse amor me lembre bem
desse amor faça ciranda.

A flecha e o alvo

Cuidar para que o amor não durma
aos goles de tristeza, com garra trêmula
num braço que se solta da via-em-vida.

Cuidar para que as palavras sejam
de batida em batida um eco cardíaco
se transformando seu coração no meu.

Cuido, enfim, da vela de meus olhos
que te chamam acesa pelo nome e por amor
para que fiques parte em mim, parte não

que se ora se vai é por humana criação
de ser inteira em tudo quanto fazes
e ponta de flecha passando-se por alvo.

O círculo do séculos

Ressuscita a voz do homem na canção
ressuscita o gozo de ver a saudade
transformar-se em mãos dadas e firmes.

Ressuscita o trabalho e o sol na varanda
ressuscita todas as tuas certezas e lendas
num ter na vida a morte que se recicla –

e todos os objetos destruídos e guardados
na andança da gente em círculos de borda
em borda, num diâmetro que se descobre.

Ressuscita para saber que tudo se retira
sem ter tempo e tanger espaço adequados
porque na há ninguém que encontre o centro.

Ressuscita para se perder de vez nas horas
ressuscita, porque tens que ir embora
na esperança de seu ânimo inominável.

Ressuscita porque meu coração se esvai
e eu preciso da vida que há na vida alheia
e para saber que eu também não tenho certezas.

Ressuscita, enfim, que a vida é assim mesmo e
o amor é só um pouco do que podemos ter,
grão de nossas biografias perto da eternidade.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Então, está aí mais uma de amor, porra!!!

Há quem tome no cu,
quem tome por assalto
e quem tome de tudo.

Outros tomam café
e há os que preferem
outro tipo de bebida.

Quem me toma
me toma inteiro,
me toma por quem sou.

Eu sou dos que gostam
tomar conta de tudo –
e tomo nota!

Eu tomei tento,
tomo lá, dou cá
e tomo emprestado.

Por isso e tudo mais
tomo vaias e tomates
e tomo um beijo
por viver tomado de amor.

Mar de volta

Entre mar e pedra tocam-se
alga e espuma, eco e silêncio:
e é uma linha tênue a do grito
quando fere a pedra o mar.

São palavras as cantigas humanas,
também os gestos que esculpem a natureza
do sorriso, da lágrima, qualquer cor
guardada na memória após a ressaca.

Há uma donzela na borda do oceano,
na ponte, no alto, com olhos longe:
ela quase pode quase tocar o céu, quase cair no mar
tão alto, tão alto, e tão longe seu sonho.

Espera uma resposta da água, no horizonte,
espera ser parte da pedra onde repousa seu sono -
o que retorna dos dias é sua imagem refletida,
aguardando um amor que não voltará.

O amor passado a limpo

O amor chegou a um ponto
em que se faz um novo encontro -
se desfaz um encanto enfim
e se faz um novo canto.

O amor atravessou a ponte
sobre o rio daqui até aonde -
chega-se a ele a cada instante
e dele se descobre ser parte distante.

Mas o amor pegou seu pente
frente ao espelho e escovou os dentes
e foi cantar numa voz que diz amar,
e foi se afogar no rio a procura de mar.

Com o tempo desejo parecia acabar-se
mas voltou um eco da ponte,
e voltou uma onda do mar -
e o amor era ainda o mesmo
só que havia tomado banho.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Sem título - [Eu caminho porque os outros fiam]

Eu caminho porque os outros fiam
caminho porque tu na tua força dispõe-te
e eu te respondo com a herança divina.

Eu caminho porque os outros bradam
e caminho porque teu chamado é pleno
de redenção no que não há d’outros ter.

Caminho porque esperas minhas guias
e caminho porque te alvas em minha flecha
como centro que a mim se faz prêmio.

Eu caminho porque te fazes chegada e pódio
caminho, porque em tua estrada não há desastres
e caminho porque não és pedra, eu não sou tropeço.

Caminho, caminho, caminho - sempre contigo...

Soneto para demonstrar amor

Para ter mais paciência
e esperança, e mais vontade
eu esqueço a experiência
e a frase que ora não cabe.

Meço do peito a ciência
na responsabilidade
de um termo de existência
qual dizer jurei a verdade.

Rimo como um construtor
faz da forma seu rumor,
molda círculo e quadrado.

Assim eu percebo amar,
faço mesmo até domar
geometria e ente amado.

Sem título - [Porque eu quero atravessar o mar]

Porque eu quero atravessar o mar,
porque eu quero me esconder do frio,
porque eu quero fugir do deserto,
porque eu não quero nunca mais calcular.

Porque eu quero desvendar todos segredos,
porque eu quero aprender a dançar e sumir,
porque eu quero desvendar a palavra mundana,
porque eu não quero o cheiro dos homens.

Porque eu quero contar as lembranças a ti,
porque eu quero crescer meu corpo no teu,
porque eu quero conhecer como é o fim da vida,
porque eu quero saber quando tudo começou.

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