quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Perversão amorosa




Porque o amor não
é lembrança - é instância
quando
o amor não
é informação,
mas acontecimento;

o amor nunca foi doença
porque é importante
ser febril
e nunca foi prisão
- pois ata em reunião -

ainda que em terno e gravata
folga com a verdade
mas tampouco foi santo
visto ser humano
e imediato -

rasgou fotografias
falou palavrões
entortou-se nos dias
juntou-se aos garfos
e procurou nas gavetas
o que o segredo reunia.

Então, como um bibliotecário
te convidei
para dançar
você subiu ao meu altar
e eu caí do céu
até que vi
que o que houve foi
a confissão do mistério humano,
a leitura das expressões.
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quinta-feira, 29 de julho de 2010

Corpo de barro




Sem espelho de beleza
não reparto nem desfaço
que tudo é inteiro e certeza:
caminho a ritmado passo.

Não me importa a novidade
pois minha alma é antiga:
só eu tenho esta verdade,
não há quem ouça o que eu digo.

Todo o tempo sou um só:
guardo a mesma porção
de infinidade e de pó
no eco de meu coração.

Se uma estrela eu for no céu
ficará em terra o que fiz:
mistura dura em papel
e o barro por meu matiz.
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quarta-feira, 10 de março de 2010

Procura




O mundo caminha debaixo
da minha janela
mas eu não lhe vejo
-mas eu não lhe vejo.

Elevo os olhos e não mais
procuro
porque aqui não passas
-porque aqui não passas.

Que estrela é a tua
a dar o rumo?
não é a minha
-não é a minha.

Que caminho fazes
e que se perde?
eu não conheço
-eu não conheço.

Qual condutor a leva?
se é pé, se é gente
ou é máquina,
pé, gente, máquina...

Se ali mesmo você passa
-se ali mesmo você passa.
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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Encontros e desencontros




Quando é difícil dizer
resta ao corpo não conter
por gesto a palavra quieta,
por modos a paixão disperta.

Quando é raro se dar
é necessário aproximar
por olhos nossas faces
por cheiro nossos disfarces.

Mas nada é difícil ou raro
quando no disparo
dum coração acelerado
se reconhece o ser amado.

Se bem assim for impossível
de ser aberto ou indizível
então não é amor o acontecido
mas, no corpo, gesto perdido.
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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Às vezes




O amor é uma casualidade,
ama-se do modo como se morre -
como num acidente na estrada
pode acontecer na ida ou na volta.

O amor é uma realidade,
às vezes é uma mentira -
como a idéia do vendedor
que torna útil o objeto exposto.

O amor é uma falta,
como no jogo de futebol -
interpretação do árbitro
e ponto de vista do torcedor.

E se eu te amo
sem querer e deveras,
com a força de uma queda
à pena de não saber o futuro
eu digo que te amo
pela vida até o fim
porque és todos os meus dias.
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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Cristalização




Preciosa, pedra que não
se divide, nem mistura -
é mineral sua veia pura
latentes corpos, um coração.

Encontrar a outra parte
tendo em ti mim mesmo:
lei orgânica do afastar
para unir o querer bem.

Preciosa, vem da terra
o corpo, se lapida e vira
lápide na vida refeita
eu com minha metade.

Somente quando me vejo
outro corpo e mesmo espaço
tenho o pedaço faltante
como fibra de carbono no diamante.
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