quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

[Foi tanto o mar que se embraveceu]




Foi tanto o mar que se embraveceu
tanto céu que trovejou
que eu não vi quem me amou -
se foi gente, se foi pedra, ou se esqueceu...

E era vulto que fazia séculos
e uma expansão de terra e céu
até não mais ver o que eram mãos
nem mais saber os próprios pés.

Sente-se tremer a carne com um vento
e num passo em falso vê-se mais firme
como um vulcão quase tormento
se deixando explodir crime e comoção.

E ainda que se perca a paixão
o destino de todos é caminhar em busca
desta fronteira entre o que é amar
e a total desesperança frente ao desatino
da eternidade que a tudo mata
mesmo quando é amor o que fica...

Mas, enquanto vivo, eu, homem,
enquanto carne e cérebro,
penso ver que se desenha novamente
as linhas da serena, ave-de-vento,
tanto eu nunca em ver causei dúvida
ao ver a tempestade por mim passar.
.
.
.

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