terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Perplexidade



Existem dias que ninguém explica:
nem a força de Deus,
nem o acaso dos homens
e eu me pergunto
se tudo é assim incerto
se tudo é assim é ao menos
se o alvo nunca é certo
se a escuridão é mais que vemos.

Existem dias que ninguém explica:
nem as palavras dum poema,
nem um sonho degenerado
e eu só desejo
continuar com minha tristeza
continuar com minha andança
continuar com minha surpresa
de não saber o que me cansa.

E o que me desanima, e enfada,
como que encantamento é
só essa falta de explicação,
esse caminho tão longe,
esse vir que ninguém vê
um horizonte que não se alcança
nem mesmo com todas as mãos,
esse lugar em que não há onde
porque já não há no que se crer.
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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Saudade em óleo sobre tela




Um pouco de lua já faz grande o tempo
até que venham as luzes passando prisma.
Eu espero. Mas eu me canso da vaga das horas
com pessoas sob minha janela, carros marcando
pistas de pedestres, pontuando meus olhos
para que eu nunca me esqueça: estou aos longes.

Num pouco de sol, colorindo uma folha
estou entre histórias, canções, desenhos
e promessas, vitórias, e todos entre mim...

Tudo, na perspectiva de quem espera cantar os pássaros,
parece dissonância, separação, e saudade
porque, aqui, de minha vista no alto dos ladrilhos,
em um quadro natural de cimento e ferro,
com uns vidros de fechar o ar, eu sou relevo
sobre a festa, para lá da janela, para lá
debaixo das marcas que separam o mundo e eu.
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sábado, 2 de fevereiro de 2008

Necrológico




Morreu nesta manhã
de terça-feira um homem
qualquer que seja com nome
igual a tantos de sua procissão.

O indivíduo trajava
num terno a tragédia
de toda sua pele tomada de pedra,
como todos de sua língua dos anjos.

Seus olhos boiavam abertos
ainda ao susto de ter
suas botas roubadas e
seus dentes de ouro arrancados.

Queria andar, já não consegue
queria comer, perdeu sua fome
desejava beber, sua sede secou,
como o sangue sem correnteza.

Este é mais um dia comum,
e também um segredo ao lado
do lado de dentro de nossa cidade
onde nada se sabe do santo do dia.
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